Nos últimos meses, diversas mudanças ocorreram no ecossistema legal impulsionadas pela pandemia da Covid-19.
Embora algumas transformações já tenham começado há algum tempo, a crise imposta pelo distanciamento social no mundo todo, funcionou como um acelerador do uso de tecnologia.
Especialmente porque a maioria dos escritórios de advocacia em todo o mundo precisaram fazer rapidamente a transição para o trabalho remoto.
Diante das medidas de bloqueio em resposta à pandemia do coronavírus, o jurídico se deparou com novas necessidades e a inclusão de ferramentas digitais no processos de trabalho e modos de colaboração.
Sobretudo, as restrições impostas pela pandemia fez com que as empresas percebessem que a tradicional forma de trabalho e os processos usados até o momento não eram tão ágeis e flexíveis.
Mas o quanto isso impactou o jurídico?
Apesar do aumento no mercado de tecnologia de ponta, para muitos profissionais do direito a ‘inovação’ ainda pairava como algo mais teórico e pouco aplicado na prática.
Então, desde deste ano, os profissionais foram forçados a buscar soluções inovadoras para se adaptar a serviços jurídicos e audiências remotas.
São exatamente essas percepções e mudanças que discutiremos a seguir com o propósito de descortinar um pouco mais sobre a crescente digitalização do jurídico.
Qual o papel da tecnologia jurídica durante a crise?
A princípio, para facilitar o teletrabalho, os escritórios de advocacia sentiram a necessidade de ferramentas com a capacidade de gerenciar suas atividades remotamente, fazer o acompanhamento de seus arquivos e centralizar documentos e dados.
Em vista disso, as questões mais pontuais e imediatas durante a crise da Covid-19 para os escritórios jurídicos, como apontam diversos relatórios e estudos recentes são:
- Mobilidade
- Flexibilidade
- Colaboração.
Logo, a tecnologia jurídica tem desempenhado um papel crítico nessa transformação. Os advogados têm buscado ferramentas que os ajudem a fazer uma transição efetiva para dar continuidade aos seus negócios e transações remotamente durante a crise.
Além de preocupações sobre a melhor forma de se comunicar e trabalhar na nuvem, as necessidades dos profissionais jurídicos também englobam controlar custos e aumentar a eficiência, ao mesmo tempo, que precisam manter a qualidade e conformidade dos serviços jurídicos prestados.
Ou seja, o efeito prático da crise econômica fez com que os advogados procurassem agregar valor e aumentar a eficiência na sua rotina diária, principalmente por meio da automação.
Neste contexto, a tecnologia jurídica tem se tornado importante para os advogados. A pandemia global está forçando esses profissionais mais uma vez a pensar sobre os próximos grandes passos e em como eles funcionam.
Assim como acontece nos diferentes setores da economia, o jurídico também está permeado por tendências e inovações, mas existe uma questão subjacente em relação ao impacto atual e as oportunidades futuras de usar novas tecnologias.
Então, qual ou quais as tecnologias jurídicas que realmente estão contribuindo para que o setor supere e cresça mesmo durante a crise?
É exatamente isso que este artigo pretende responder:
O que os advogados estão buscando em termos de tecnologia e transformação digital?
As tecnologias jurídicas que estão no centro das atenções
Diante de uma crise global sem precedentes, o jurídico tem buscado soluções que os ajudem a manter suas operações centrais em funcionamento e atender às necessidades de eficiência na entrega de serviços jurídicos.
Conforme uma lista feita pela Law.com, os escritórios jurídicos devem olhar principalmente para:
- Adaptação ao trabalho virtual, incluindo audiências, julgamentos, conferências do setor, reuniões com clientes.
- Tecnologia jurídica com a capacidade de automatizar vários aspectos do trabalho jurídico relacionados a contratos.
Em relação ao gerenciamento de contratos citado acima, percebe-se, inclusive uma grande movimentação em direção a investimentos em tecnologia CLM [Contract Lifecycle Management] para gerenciar contratos.
Segundo um recente artigo da Bloomberg Law, a pandemia Covid-19 está solidificando a mudança em direção às tecnologias para gerenciar contratos, visto que os advogados corporativos estão se deparando com um esforço cada vez maior para revisar os contratos afetados pela crise.
Além disso, a mudança para o trabalho remoto também tem forçado os atores deste ecossistema a confiar cada vez mais nas assinaturas eletrônicas.
E, por conseguinte, à medida que abandonam os contratos em papel precisam se adequar a novos fluxos de trabalho.
Esse mesmo artigo traz uma observação importante da consultora de inovação da Orrick Herrington & Sutcliffes, Vedika Mehera, sobre os investimentos no CLM nos últimos anos.
Segundo a consultora, “essa ferramenta se tornou uma prioridade para os departamentos jurídicos nos últimos anos, mas a Covid o colocou na frente e no centro e com uma prioridade muito maior do que antes.”
Por que a automação do gerenciamento de contratos?
Sem dúvidas, o CLM é uma ferramenta ágil que permite a manutenção de registros em tempo real e aprimora o processo mesmo diante das restrições impostas pela pandemia, como distanciamento social.
Essa tecnologia foi desenvolvida para que os usuários obtenham mais eficiência e reduzam custos [e tempo] utilizando uma única plataforma para criar, armazenar e pesquisar contratos em todo o ciclo de vida.
Por exemplo, os usuários podem usar essas ferramentas para solicitar, aprovar e executar contratos digitalizados, e utilizar assinaturas eletrônicas, permitindo a continuidade dos negócios sem contratempos mesmo quando as partes não podem estar presentes no mesmo local.
A inovação gerada por essa ferramenta ajuda os advogados a gerenciar acordos jurídicos digitais rapidamente, com total colaboração interna e envolvimento em tempo real dos seus principais parceiros de negócios.
Em suma, tecnologias como o CLM ajudam os profissionais jurídicos a resolver, além do teletrabalho, seu maior ponto de dor: tempo perdido em tarefas administrativas.
Outras tendências e a relação dos advogados com a tecnologia
Para ilustrar as tendência e a relação dos advogados com a tecnologia jurídica durante a crise, vale destacar um estudo realizado pela Wolters Kluwer [empresa global de edição e serviços de informação].
Em junho deste ano, a empresa entrevistou profissionais jurídicos em diferentes partes do mundo e publicou o relatório “Wolters Kluwer 2020“ Os advogados de frente para o futuro ” para avaliar as perspectivas deste setor.
A pesquisa incluiu as opiniões de 700 profissionais jurídicos nos Estados Unidos e em nove países europeus (incluindo a França).
Sobre o setor [tendências, expectativas, futuro]
Tendências específicas em serviços jurídicos corporativos [prioridades]
- Reduzir/controlar os custos jurídicos externos;
- Melhorar as operações jurídicas e a gestão de projetos jurídicos;
- Agregar valor estratégico.
Nota: Entretanto, o estudo mostra que menos de 30% dos escritórios de advocacia acreditam que seu escritório está muito bem preparado para responder às mudanças relacionadas à tecnologia.
Embora 76% consideram a tecnologia jurídica como tendência principal, apenas 28% dos entrevistados disseram estar totalmente preparados para lidar com ela.
Tendências que devem ter o maior impacto:
- Importância crescente da tecnologia legal – 76%
- Responder às mudanças nas expectativas de clientes e gerentes – 74%
- Foco na melhoria da eficiência / produtividade – 73%
- Capacidade de adquirir e reter talentos – 73%
- Lidar com o crescente volume e complexidade das informações – 72%
Três principais critérios para os serviços jurídicos corporativos:
- A capacidade de usar a tecnologia para otimizar a produtividade [eficiência e os processos de
colaboração / trabalho]. - A capacidade de se especializar.
- A capacidade de entender/ colaborar com as necessidades dos clientes.
Principais mudanças esperadas pelos serviços jurídicos [próximos três anos]
- 82% dos entrevistados têm como expectativa um maior uso de tecnologia para melhorar a produtividade;
- 80% projetam maior colaboração e transparência entre escritórios de advocacia e clientes;
- 76% planejam dar mais ênfase à inovação.
Em suma, o relatório concluiu que a “crise terá um impacto considerável em todo o sector jurídico e irá acelerar a transformação digital em curso”.
Finalmente, analisando os dados acima percebe-se que a inovação é cada vez mais bem-vinda entre os advogados.
E o elemento-chave que os move para essa transformação é a necessidade de aumentar a capacitação e agilidade, sem perder a qualidade e conformidade na prestação de serviços aos seus clientes.
E você? Quais são as suas principais perspectivas em relação a tecnologia jurídica? Compartilhe nos comentários.
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